28 de nov. de 2013

Eu te amo, Renato

É domingo, início da noite, lá fora chove e faz frio, da janela do meu apartamento vejo um homem em busca de um local onde possa se proteger da água que jorra pela rua.

Aqui dentro, estou pensando em você. Pensando que poderíamos estar juntos agora, assistindo "Eu te amo Renato", nosso filme favorito. Você com a cabeça repousada em meu peito, eu te acariciando a nuca.

Esboço um sorriso sutil, mas então eu ouço seu grito, desesperado — "MINHA PÉROLA!" — o nosso carro começa a girar pelo ar até se chocar com uma árvore. Olho para minhas mãos que ainda estão ao volante. Então olho para você, um semblante de terror na face, sangue desce pelo seu pescoço, seus olhos estão sem vida. Meu sorriso desaparece e a dor dilacera toda minha alma. Ah, meu amado Renato, que difícil viver sem você.

Fecho os olhos e lembro do mendigo que está lá fora, provavelmente sentindo fome e frio. Abro os olhos. Desço as escadas, pois o elevador está ocupado, então chamo o homem que está completamente ensopado. Ele vem a mim. Alto, peso ideal, barba por fazer, cabelos longos e cacheados, seus olhos refletem a emoção de quando nos conhecemos, naquele luau. Ele sorri e eu sorrio de volta. Pergunto se ele quer entrar até a chuva passar. Ele me acena um sim com a cabeça. 

Subimos pelo elevador, que desta vez está vazio. Enquanto subimos, nenhuma palavra trocada, eu olho para ele, ele olha para algum lugar que eu não consigo decifrar, seu olhar parece vago. Sétimo andar. Apartamento 701. Abro a porta e convido-o a entrar.

Ele faz menção em tirar os sapatos, mas eu o impeço. Ele entra, pergunto se deseja tomar banho. Ele acena mais uma vez com a cabeça, positivamente. Começo a ficar intrigada. Seria, aquele homem, mudo? Mas ofereço-lhe uma toalha e ele vai se banhar.

Enquanto ele toma seu banho, faço um espaguete, pois deduzo que o mesmo deva estar com fome. Então me vem à memória, como um flashback, você e eu, também em um domingo, fazendo espaguete na nossa cozinha. Você se lambuzando, todo desajeitado, eu ficando estressada, você passando molho de tomate na minha testa.

O rapaz sai do banheiro enrolado na toalha. Que cabeça a minha! Esqueci de oferecê-lo uma roupa limpa. Mas que corpo lindo, totalmente definido e de uma delicadeza que faz bem ao ser vista. Pego uma camiseta azul-marinho, uma calça jeans desbotada e, quando abro a gaveta de cuecas, aquela sua cueca box preta, minha favorita, estava por cima; cogito um pouco antes de pegá-la, mas por fim, acabo entregando-a a ele.

Ele se veste e fica delirantemente belo. Olho para ele e sorrio. Ele sorri para mim, sinto algo de familiar naquele sorriso. Convido-o à mesa para comer. Ele mata sua fome, ainda sem dizer sequer uma palavra. Levanta, lava a louça; tento impedi-lo, mas ele não abre mão.

Após arrumarmos a cozinha,  chamo-o para a sala de estar. Ao passar pela porta, ele me puxa desesperadamente, me assusto, e antes que possa fazer qualquer sinal negativo, ele me beija. Simplesmente não consigo pensar, me entrego a esse beijo, talvez por ansiar inconscientemente por isso.

Sua barba roçando na pele macia do meu rosto. Ele começa a tirar minha blusa regata branca, e eu vou me entregando cada vez mais ao momento. Estamos então nus, no chão frio de madeira da sala de estar. Ele me penetrando, eu em um transe de emoções inexplicáveis. 

Me sinto renovada pela primeira vez desde que te perdi. Sinto Amor dentro de mim. 

A transa obtém seu ápice, e eu me pergunto se ainda estarei completa quando seu membro deixar o meu interior. Então, ele me beija, um beijo com amor, daqueles que você sente Deus nos lábios do parceiro. 

Ele se levanta, veste a cueca, a calça, a camiseta. Observo-o atônita: estaria ele indo embora? Nada significou pra ele o quanto significou para mim? Uma lágrima se forma em meus olhos.

Ele vai em direção à porta, abre-a, mas antes, vira para trás e diz:

— Eu preciso ir, os Anjos esperam por mim, e agora estou pronto para, finalmente, descansar. Eu te amo, minha Pérola. 

Minha Pérola. Aquela voz.

Eu te amo, Renato. 


Guilherme Rodrigues Santos

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