5 de abr. de 2017

13 Reasons Why: alguém é vilão?


Eu gosto de acompanhar o que as pessoas comentam sobre as séries que eu assisto (apesar de detestar spoilers), e na última semana todo mundo tem falado de 13 Reasons Why

Entretanto, vejo muito comentário colocando "os 13" como escrotos, insensíveis, vilões desalmados, alguns chegam a considerá-los assassinos. Eu não enxergo dessa forma, então deixo aqui outro ponto de vista. 

Primeiro, a série não é sobre vilões contra uma garota indefesa; é sobre adolescentes em fase escolar e nós sabemos bem como funciona essa fase. Segundo, toda a história é subjetiva, nós só temos a versão da Hannah (além de alguns poucos plots sobre a vida dos 13 pós-morte de Hannah), assim, é complicado e injusto tirar-se conclusões baseados na perspectiva de uma única pessoa: talvez ela tivesse uma visão alterada da realidade, devido os problemas pelos quais estava passando. Mas meu ponto não é definir se Hannah mente ou não em suas fitas, isso não é tão importante. 


Alguns dos 13 realmente foram pessoas babacas? Foram sim. Hannah passou por situações de bullying, assédio, exposição de imagem e isso sim é culpa daqueles que o cometeram. Porém, a maioria das fitas mostram pessoas que viviam suas vidas muito centradas em si mesmas (como a maioria de nós), sem despender atenção e suporte a quem lhe cerca. Muitas vezes, não se importar pode ser doloroso para quem é mais vulnerável: um compromisso desmarcado em cima da hora, pode ser lido como um "eu não quero mais ser seu amigo" e isso não faz do outro um vilão. 
A percepção que o outro tem das nossas ações não podem ser controladas por nós, isso diz respeito a eles. A nós só cabe ter cautela, buscar se relacionar de maneira honesta e saudável com qualquer ser humano, pois nunca conheceremos a fundo suas individualidades, seus sofrimentos, suas inseguranças e desejos.

Você não sabe o que se passa na vida de ninguém. Quando você mexe com uma parte da vida de alguém, você não está mexendo apenas com essa parte. Infelizmente, você não pode ser tão preciso e seletivo. Quando você mexe com uma parte da vida de alguém, você está mexendo com sua vida inteira. Tudo afeta tudo.

Por outro lado, como disse no início do texto, a série nos desperta para empatia ao sofrimento de Hannah (e consequentemente de Clay), e é positivo que muitas pessoas fiquem completamente revoltadas ao ver as situações relatadas por Hannah em suas fitas, isso nos deixa atento para as situações da vida que não se passa na Netflix - é didático. Nos ensina de maneira pesada, sem colher de chá, a prestar mais atenção às minúcias das relações interpessoais. 

Além disso, diversas vezes, durante os episódios, me perdi pensando em como a produção da série é certeira ao trazer a tona questões que envolvem bullying, transtorno depressivo, suicídio e outras questões psicossociais. Estes assuntos devem ser abordados, porém quase nunca estão em evidência. Amém, Netflix! que compôs uma equipe completamente estruturada e preparada para abordar temas tão complexos e estigmatizados.


Guilherme Rodrigues Santos




PS.1. Escrevi esse texto após assistir ao episódio 7: "Tape 4, Side A". Assim, talvez tenha deixado de abordar algo que surja nos episódios subsequentes. Se achar importante, faço uma alteração aqui no texto após terminar de assistir à primeira temporada.

PS.2. [CONTÉM SPOILER] Terminei de assistir à temporada, e gostaria de rever alguns pontos: existiram pessoas durante a série que tiveram responsabilidade concreta sobre a morte de Hannah, sim. E Bryce é o maior exemplo desses, ao estuprar Hannah (e Jéssica), ele afeta imensamente a instabilidade dela, além de cometer um crime que deve ser punido.

* Caso você precise de apoio num momento ruim, acesse CVV - Centro de Valorização da Vida, ou disque 141.

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